Há uns tempos dei com a minha pessoa a ver um documentário sobre associações de protecção de animais que actuam e salvam em alguns países asiáticos, animais exóticos, que são exibidos na rua para turistas. Um dos animais mais explorado para esse fim, são os elefantes. E então perguntava-se a um dos donos de um elefante como é que conseguia treiná-lo tão bem e ter ali um animal tão portentoso numa forma tão submissa e dócil, apesar das chibatadas e dos grilhões nas patas traseiras. O dono lá explicou que apesar do elefante ser um animal extremamente inteligente, este treino era iniciado com os animais ainda muito jovens e era repetido até à exaustão do animal, até que estivesse interiorizado. Pelas palavras do dono do elefante: "Para serem bem treinados é preciso quebrar-lhes a vontade." Estas palavras ficaram-me na cabeça.
Quando resolvi aceitar o emprego na fábrica, infelizmente eu sabia para o que ia... Sabia que o ambiente podia ser de cortar à faca por causa das produções, sabia que era duro fisicamente, sabia que a encarregada podia ser exactamente como foi (a real bitch!), sabia que durante as duas primeiras semanas se iriam trabalhar 12 horas por dia a 3 euros à hora. Não ia era preparada para o resto... para a mecanicidade que toma conta de nós, para a falta de motivação, para a falta de humanização. Lá, as pessoas começam a aproximar-se mais de máquinas, porque assim são melhores trabalhadores e dão mais produção, e vão deixando devagarinho de se verem como pessoas... pessoas únicas, com sonhos e objectivos. Os dias começam a passar, cada um mais igual ao anterior. É um trabalhar sôfrego, para chegar a casa e descansar o pouco que se pode sofregamente, para que no dia a seguir comece tudo outra vez... Até ao dia de receber e começar tudo outra vez...
Nem vos conto as vezes que dei comigo em modo off, os meus braços a trabalhar como se não houvesse amanhã e a minha cabeça looooonnnnggggeeeeee, na minha zona zen. E ainda assim pensava :" Anda lá, deixa de ser vidrinho de cheiro! Vais habituar-te... Se elas conseguem também consegues! E já falta pouco para o dia acabar..." E foi no meio de uma destas minhas evasões mentais, que uma tarde, já quase ao fim do dia o patrão resolve anunciar que afinal ainda se ia trabalhar mais horas e quem não aguentasse é porque não servia para aquilo... Eu senti os grilhões a apertar e resolvi dizer que não, eu não servia para aquilo e que no dia a seguir já não ia mais... má vontade, não sei... talvez... Mas é a MINHA vontade, é aquilo que me move... E isso não é para quebrar.
E pronto, vim-me embora. Trabalho? Venha o próximo!
Ah! O elefante e outros que também eram escravizados na rua, foram salvos pela tal associação, foram comprados aos donos e agora vivem num santuário para protecção destes animais. :)