No 1º dia em Amesterdão, visitámos a casa onde ficava o esconderijo que abrigou Anne Frank e os seus familiares, durante os dois últimos anos da 2ª Guerra Mundial. Eu já li o Diário há muitos anos, com a mesma idade que tinha Anne quando o escreveu, e lembro-me que me impressionou de tal forma que o li 3 ou 4 vezes... E fiquei com algumas das passagens gravadas na memória... Os posters que ela tinha colado nas paredes do quarto, a estante que disfarçava a entrada para o esconderijo, o diário forrado a tecido vermelho de xadrez, e o sótão onde ela conversava com Peter e onde se podia ver o céu...
Ao entrar na casa, que agora é um museu, é isso que se pensa, é mais um museu... Mas quando se toca nos corrimões para subir as escadas altas e estreitas, a ficha cai e a energia que se sente é realmente avassaladora, quando dás contigo a pensar "Ok, isto é real... Isto aconteceu mesmo...". E é impossível não se sentir o coração apertado quando se chega à estante que disfarçava a entrada do esconderijo...
No fim, está lá o Diário de Anne, aberto com a sua letra pequenina, para poupar espaço, para que durasse mais... Na sala a seguir já se fala do dia em que foram descobertos, do dia em que foram traídos, do dia em que entraram nos campos de concentração... E estão lá as listas, com um número de nomes que parece não acabar... O de Anne e os dos seus familiares são um grão de areia no meio daquela lista.
E eu dei comigo a sentir vergonha... Vergonha alheia, por serem pessoas a fazer isto a pessoas... Por achar que por vezes o mundo esquece-se, e a história, de uma forma ou de outra repete-se...
O Diário, aberto, é para isso mesmo, para que o mundo não se esqueça, pela Anne.